por Flávio Morgenstern (*).
Ex-revista Veja extrapola o sensacionalismo ao usar criança de 6 anos na capa para implantar a hipersexualidade revolucionária precoce.
Depois de uma reportagem de capa risível sobre Jair Bolsonaro, a Veja, uma ex-revista desesperadamente preocupada em se tornar palatável para os leitores de Brasil 171 e Diário do C. do Mundo (tem até página para o Sensacionalista, de Marcelo Zorzanelli, um dos fundadores do DCM), fez uma nova reportagem capa, lançada em pleno Dia das Crianças, sobre pais de “filhos trans”. Na capa, uma criança de 6 anos que ensinou seu pai sobre “identidade de gênero”.
O principal teórico do que podemos chamar de “socialismo democrático” cujas teses sobre mídia foram aplicadas no Brasil, o italiano Antonio Gramsci, sabia que muito mais do que a força impositiva dos revolucionários bolcheviques para a implantação do socialismo através da Nomenklatura estatal, no Ocidente importava a hegemonia, uma gradual manipulação do senso comum através de órgãos de mídia, professores, celebridades e “intelectuais orgânicos”, de acordo com sua definição (esta destruição do senso comum é que nomeia este humilde recanto). Sobretudo aqueles bastante conceituados outrora, como já foram no Brasil instituições como a Igreja Católica e a revista Veja.
É a síndrome de hegemonia que acomete a Veja, a ex-revista, hoje sob a batuta de André Petry, que levou a sua editoria a aplaudir qualquer idéia dita “revolucionária, mas dentro da democracia”que seja aventada alhures.
Ora, de acordo com estudo pubicado pelo Williams Institute da UCLA em 2011, usado como fonte até pelo jornal de extrema-esquerda New York Times, apenas 0,3% da população americana (que tinha 310 milhões de pessoas) se identificavam como “transgêneros”, totalizando 700 mil adultos.
Ainda assim, há aparentemente assuntos com alguma relevância maior, afetando um nicho um pouco maior de pessoas, a ser tratado pelos maiores veículos da grande e velha mídia, como Globo e Veja. A depressão mais aguda afeta 6,7% de americanos, ou 14,8 milhões de adultos, por exemplo. Uma em cada 33 crianças e um em cada oito adolescentes sofrem de depressão.
Ainda que tenha números indescritivelmente maiores (para não falar em deficientes físicos, ou pessoas com câncer, ou crianças órfãs, ou filhos de pais viciados em drogas, ou favelados, ou crianças abusadas pelos padrastos etc), você não verá nenhuma política pública sobre depressão virar tema a dividir esquerda e direita nos debates políticos, ou conversas de bar entre amigos, ou discussões sobre como precisamos reformar inteiramente a sociedade em prol de pessoas sofrendo de coisas muito mais graves. As capas de Veja sobre depressão só surgem quando se fala em controlar as pessoas com novos remédios, e não sobre o chamado “mal estar” do mundo moderno.
Afinal, nada disso envolve o ataque ao senso comum, que hoje precisa ser mediado pela grande mídia, celebridades, professores, políticos e demais intelectuais orgânicos como é o caso de pessoas transgêneros. Hoje, ainda mais aprofundado com o uso de crianças como peões de manobra no tabuleiro político – vide a capa de Veja.
Misteriosa, estudada há pouco e sempre com inversões e contra-estudos sobre sua natureza, além da causa misteriosa, casos reais de transtorno de identidade de gênero são coisa rara e delicada, e teve resultados desastrosos quando foram manipulados para provar uma ideologia.
Bem ao contrário de toda a quizomba armada em torno da jornalisticamente chamada “cura gay”, que nada tinha a ver com “curar gays”, os resultados mais trágicos observados sobre a imposição de ideologias sobre a sexualidade foram causados justamente pela ideologia de gênero: o famoso experimento do caso David Reimer, quando se tentou trocar o sexo de um bebê à força para provar que o gênero é socialmente construído, e não se nasce com ele – ou seja, para se provar a ideologia de gênero, aplicada até a crianças.
Como spoiler para quem ainda não pesquisou sobre o caso, terminou em depressão, suicídio e morte de uma família inteira, enquanto o psicólogo que impôs a ideologia de gênero se jactava em “estudos acadêmicos” sobre o “sucesso” de seu experimento.
Nada disso será lido na reportagem de Veja: a ideologia de gênero que acredita em uma classe de seres humanos fora da estrutura da espécie denominada “crianças trans” trata todo o espinhoso assunto com a mais pura ciência da grande e velha mídia atual: crianças “não se identificam”, e pá-pum, acabou o problema.
Todo o tutano da discussão que não caiba em auto-declaração poderá então ser explicado por uma meia dúzia de palavras-chave como preconceito, respeito, obscurantismo, fanatismo religioso. É, nem sempre chega a meia dúzia.
Crianças, como aquela que o Brasil testemunhou a tocar envergonhadíssima em um homem nu no MAM, sem saber o que estava errado (mas sabendo que algo estava errado), não têm consciência de questões como sexualidade. É por isso que qualquer atividade sexual para crianças é perniciosa: coisas normais, ou mesmo normalizadas, para adultos são proibidas para crianças por razões o mais das vezes óbvias.
Quando uma criança “não se identifica com seu sexo biológico” (como se uma criança soubesse o que é algo como sexo biológico, ou como se soubesse o que é sexo), tudo o que 99,999% dessas crianças está fazendo é tendo uma crise de identidade óbvia e natural desta fase da vida.
Alguns se identificam com o Batman, ou com um astronauta. Outros são meninos que se identificam mais com figuras femininas como a mamãe. É normal que ninguém se identifique com um repórter da Veja fazendo uma matéria dessas, pois a criança só tem identificação com posições de prestígio (nenhuma se identifica com losers). Basta crescerem um pouco e voilà, veja a mágica ser desfeita e a criança abandonar um pouco o mundo da fantasia e ganhar um pouco de contato com a realidade. A despeito e revistas como a Veja insistirem no caminho contrário.
A maior ideóloga de gênero em atividade hoje é a feminista ultra-radical Judith Butler, autora da pedra de toque sobre o assunto, o livro Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity, de 1990. Para Judith Butler, após uma radical cisão entre sexo e gênero, fica-se com a biologia circunscrita tão somente à secundária função quase excretora, enquanto as “performances” sociais definiriam gêneros.
Ou seja: menino gostar de azul e menina gostar de rosa não teria “nenhuma” relação com biologia, seriam puras “perfomances” sociais definidas pela “sociedade patriarcal” (Judith Butler, lembrando o que Victor Klemperer estuda sobre a linguagem do Terceiro Reich, ama algumas aspas irônicas, até em palavras como “mãe”, “filho”, “criança” e afins).
Não é preciso ser um gênio para perceber que diversas dessas performances têm um simbolismo claramente calcado em uma realidade que ideólogos como Judith Butler odeiam (o rosa é identificado até por animais como uma cor a indicar delicadeza, e o fato de as saias ter sido desenvolvidas para meninas e as calças para meninos só pode gerar dúvidas em quem nunca viu nenhum dos dois como veio ao mundo). Vide como o personagem de Robert Smith, vocalista do The Cure, trabalha bem como uma criança usando roupas ora do pai, ora da mãe, e completamente confusa no resultado.
Nem tampouco que as tais “performances” são justamente as únicas coisas que crianças sem conciência nem sequer de si próprias (algo conquistado após diversos e dolorosos ritos de passagem no caminho para a maturidade) conseguem imitar de adultos. Uma suposta “menina trans” de 5 anos não deve passar muito tempo tentando fazer xixi de pé e nunca ouviu falar da maior sabedoria exclusivamente masculina da história: não importa o quanto você balance, o último pingo sempre cai na sua cueca.
Na verdade, para alguém descolado da realidade como Judith Butler (num nível além da reportagem da Veja, mas não muito além), nem mesmo a biologia é impeditiva: as cirurgias de mudança de gênero, o movimento transexual e os hormônios “provam” que nem mais o sexo é impeditivo. A turma que tanto fala em “ciência” para ir contra as “crenças religiosas obscurantistas e ultrapassadas” é a primeira a jogar a Biologia no lixo quando precisa lembrar das aulas de XX e XY.
(Judith Butler, que tanto denuncia as “performances” como meras “performances”, que não deveriam aprisionar seres humanos a manter o seu gênero atrelado a seu sexo, é a primeiríssima a exigir performances 200% calcadas no patriarcado, como quando veio palestrar no Brasil e exigiu que os homens fossem assisti-la de saias.)
O que eram supostas “crianças trans” antes da invenção moderníssima de cirurgias de mudanças de gênero e da combustão de hormônios que precisam ser atualizados semanalmente para que não se volte a encarar a triste agonia científica, a reportagem da Veja não se digna a dizer.
O efeito deletério dessa implosão de medicamentos para mascarar a realidade e manter crianças com conflito de identidade no reino da fantasia também não se encontra nas páginas de Veja: a necessidade de ter crianças com síndrome de puer aeternus e se tornando fanáticas militantes do PSOL em troca de uma vida de frustrações, remédios, cirurgias e acompanhamentos psiquiátricos para problemas artificialmente criados é muito mais urgente.
Não há para onde correr e não ver a agenda da grande e velha mídia (e a Veja sob a batuta de André Petry, de revista mais conceituada do país, para uma ex-revista albergando comunistas e jornalistinhas sem nada importante a dizer, apesar das bravas resistências intelectuais de alguns grandes jornalistas da velha guarda).
Apesar da chamada sensacionalista (!) da capa, ninguém pode dizer “Meu filho é trans” sobre uma criança de 6 anos. Uma criança de 6 anos no máximo é um menino que ainda não entendeu a convenção social de que as saias são para as mulheres, e se tiver vontade de usar saias, será como uma brincadeira tão inocente quanto brincar de cowboy e índio (ou não sei como as crianças fazem hoje, talvez bancada da bala contra bancada da chupeta).
Seu filho nada entende de sexualidade, não se “identifica” como algo diferente do que o filho do vizinho que se identifica como o Homem-Aranha ou se identifica mais com um dos padrastos do que com o pai biológico. Seu filho apenas é confuso. E não entende convenções sociais (ninguém as entende de todo, toda sitcom é baseada nisso).
Convenções e tradições são compilações de conhecimento das eras, mas vêm sem manual de instruções: é seu trabalho como pai explicar que menina pode brincar de tiroteio e menino pode gostar de dança, mas que isso nada tem a ver com “transexualidade” só porque um psicólogo criado a base de Michel Foucault mandou seu filho tomar hormônio que cavalo não tomaria a cada 2 horas pra satisfazer sua ideologia. Isto é o PSOL tentando ganhar eleição via doping.
Crise de identidade é obrigatório em criança. O problema é quando adultos a têm, e criam problemas no laboratório do dr. Moreau, apenas para vender ideologia política, em troca de uma geração frustrada, hormonizada e cirurgicalizada. E quantos estudos fizeram sobre arrependimentos na idade adulta, quando costuma vir a maturidade e um oceano de arrependimentos para se afogar?
Seu filho não é trans. Ele mal tem um problema. O maior problema que ele tem é o pai idiota que ainda não acordou pra realidade mesmo após a idade que deveria trazer alguma maturidade.
(*) Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs" (ed. Record). No Twitter: @flaviomorgen
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