Nossa linda juventude, alinhada e patrocinada.
por Renato Pacca
No “Dia Internacional da Juventude”, acontecido em agosto último, é pertinente refletir sobre alguns fatos e questionar cada jovem brasileiro sobre o que ele deseja para si, para o país e para o mundo.
Antes de mais nada, que fique claro que eu não desconfio da juventude porque sou velho. Ainda não. Na verdade, se desconfio da juventude é justamente por ainda manter a alma jovem e saber que é perfeitamente normal perseguir ilusões, com o entusiasmo típico de quem acha possível mudar o mundo antes de mudar a si mesmo.
Todas as revoltas e revoluções criativas ocorridas no mundo, para o bem e para o mal, foram alimentadas pelo vigor da juventude e por sua crença inabalável de que tudo é possível. A maior força da juventude reside na vontade de questionar os parâmetros vigentes, forçando a alteração do status quo, razão pela qual Platão ensinava que, de todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar.
Mas o filósofo grego jamais poderia conceber a atual juventude brasileira politicamente organizada, que se contenta com o alinhamento automático a um governo que lhe patrocina.
Se o “Fora FHC” patrocinado pela UNE nos anos 90 era uma bobagem, pelo menos ainda se verificava a chama questionadora de uma entidade historicamente comprometida com a mudança. A UNE de hoje, contudo, faz jus aos seus 75 anos de idade e é uma senhora conservadora, que apóia projetos politicamente corretos e há muito abdicou de qualquer contestação. Prefere a comodidade de lutar por temas genéricos e subjetivos, devidamente patrocinada por polpudos convênios governamentais, é claro.
Pior: Lideranças estudantis aceitaram com a maior naturalidade o convite para um café da manhã com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que veio ao Brasil para a Rio+20, e ainda o presentearam com uma bandeira. Nem de longe pensaram em protestar contra um ditador que odeia judeus, jornalistas, homossexuais, mulheres adúlteras e certamente perseguiria estudantes mobilizados por uma causa. Qualquer causa.
Ou seja, os estudantes brasileiros não foram sequer leais em relação aos colegas iranianos. Ao aceitar o convite para um reles café da manhã, foram omissos em relação às práticas repressivas, a violência e a morte patrocinadas pelo regime iraniano.
Os jovens de hoje ainda são os depositários da posteridade da nação, mas para colher algo novo no futuro, não podem ser tão facilmente domesticados. Como será possível fazer a diferença, se repetem antigas práticas? Como será possível mudar o país, se recebem mesada estatal? Parafraseando Pablo Picasso, pelo que vemos hoje infelizmente ainda será preciso algum tempo para que a juventude brasileira enfim se torne autenticamente jovem.
Fonte Instituto Millenium
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