quinta-feira, outubro 25, 2007

TV DO FANATISMO





TV DO FANATISMO
por Augusto de Franco

Qual o objetivo da TV governamental – falsamente chamada de TV Pública – que Lula, abusivamente, criou por Medida Provisória?

Antes de qualquer coisa é preciso ver que a TV de Lula não será pública, nem sequer estatal, e sim governamental mesmo, controlada pelo governo petista. E não será pública, inclusive, porque não terá público. Parece um jogo de palavras. Mas é mais do que isso!

O objetivo, imaginado pelos agentes petistas, para a TV governamental, é quebrar o monopólio dos grandes meios de comunicação que estão nas mãos dos conservadores, das elites, da direita, abrindo espaço para os que não têm voz nem vez nesses órgãos reacionários e anti-populares. Essa é a raiz, vamos dizer assim, chavista, do projeto.

Mas Lula, que não é burro como alguns de seus ideologizados seguidores, sabe que no Brasil isso não vai funcionar. Com 3% de audiência, essa nova TV não vai conseguir disputar com as grandes redes que não estão sob seu controle, nem mesmo com aquelas com as quais ele está fazendo alianças e negócios espúrios.

Lula é mais pragmático. Os objetivos realísticos da sua TV governamental são dois: neutralizar jornalistas e coagir meios de comunicação.

Neutralizar jornalistas como? É simples. Quem for pego fazendo muita matéria contra o governo vai para a lista dos que não serão contratados por Franklin e Cruvinel. Como os jornalistas nunca têm segurança de que não serão despedidos amanhã das grandes empresas em que estão trabalhando hoje, vão ficar quietinhos para não queimar essa alternativa de emprego, que pode ser providencial para pagar suas contas em futuro próximo. Não todos, por certo. Mas boa parte. Querem uma prova? Basta ver como vários jornalistas, sobretudo em Brasília, estão desconversando quando o assunto é a chamada "TV Pública".

E quanto a coagir os meios de comunicação? Bem, aqui a TV governamental se insere numa estratégia mais ampla, aquela mesma estratégia chamada de "democratização dos meios de comunicação", verbete que defini assim no meu antigo Glossário da ‘Era Lula’: "Eufemismo utilizado pelo PT para tentar legitimar o controle partidário ou corporativo-estatal sobre os meios de comunicação e a atividade jornalística e áudio-visual em geral. A ‘democratização dos meios de comunicação’ está a serviço da estratégia do PT no governo de criar condições para a instalação de uma hegemonia de longa duração no país. Segundo essa visão, como os grandes meios de comunicação estariam, supostamente, a serviço das ‘elites’, eles não seriam democráticos (entendendo-se aqui por democrático aquilo que está a serviço da maioria do povo) e, assim, precisariam ser "democratizados" ou submetidos ao controle social, quer dizer, ao controle da maioria do povo. Tal controle, entretanto, só pode ser viabilizado por instituições que representem o povo, como um governo popular e as organizações corporativas e classistas a ele alinhadas: e. g. conselhos populares – como o Conselho Federal de Jornalismo, proposto pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e endossado pelo governo Lula; e agências formalmente independentes, como a proposta Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV), porém, na prática, controladas igualmente pelo governo". Isso foi escrito há algum tempo. O CFJ e a ANCINAV goraram, diante da resistência democrática da opinião pública. Mas eles não desistiram.
TV DO FANATISMO
A associação de Lula com o Bispo Edir Macedo, com suas TVs e com seu partido (onde Lula não teve vergonha de alocar, inclusive, o vice-presidente da República) – processo que começou com a defenestração de Boris Casoy – faz parte dessa mesma estratégia, que compreende ainda ameaças veladas de não renovar concessões, pressão mafiosa sobre anunciantes, novos projetos de lei que coíbam ou constranjam de alguma forma a atividade jornalística independente et coetera.

O partido da Igreja Universal foi o que mais se beneficiou da infidelidade partidária, "roubando" parlamentares dos partidos de oposição. Analogamente, mais uma TV – e com bastante dinheiro – também será uma maneira de capturar quadros importantes dos grandes meios de comunicação.

São novas formas, indiretas e ampliadas, de mensalão. São maneiras criativas, urdidas pelo lulopetismo, para fazer alguém (segundo o Casseta & Planeta, agindo como prostituta, "sem intenção de ofender" essa importante categoria profissional), "aceitar dinheiro para mudar de posição".

Para o governo Lula, a liberdade dos meios de comunicação é o alvo principal. Toda a estratégia de conquista de hegemonia do lulopetismo está montada sobre uma "lógica" que pressupõe a não-divulgação dos crimes e outros atentados à democracia e ao Estado de direito cometidos pelo grupo privado ora no poder e que quer se eternizar no poder.

Como já diagnostiquei em artigo na Folha de São Paulo no final de setembro, "usar a alta popularidade de um líder populista para mudar "democraticamente" as regras do jogo seria exeqüível se não obrigasse, antes, a violar as regras do jogo (fazendo coisas como o mensalão ou caixa três). Ora, num país de imprensa livre, tal violação não pode passar despercebida. Logo, para isso dar certo, seria preciso restringir essa liberdade (como fez Chávez). Mas, se aqui não há condições de fazê-lo, então, mais cedo ou mais tarde, a operação toda desmorona".

Isso não significa que a operação lulista vai desmoronar. Há um "se" na última frase transcrita acima. Ou seja, a estratégia petista vai dar certo na medida em que o governo conseguir ganhar, neutralizar, coagir ou constranger os profissionais de imprensa e os órgãos de comunicação.

Se existisse oposição democrática no Brasil, essa deveria ser a sua principal preocupação. Pelo visto, infelizmente, não existe.

Nenhum comentário: