sábado, fevereiro 24, 2007

NÓS TAMBÉM JÁ VIMOS ESSE FILME.



ENTREVISTA Luiz Maklouf Carvalho, autor do livro "Já ví esse filme":

Seu livro mostra que muito do que atualmente ocorre com o PT e seus membros não é novidade. O próprio título, "Já Vi Esse Filme", mostra que os acontecimentos que apimentam a crise atual não são novos — corrupção, nepotismo, favorecimentos, empréstimos etc. A seu ver, confirmaria-se, então, a má fama que o brasileiro tem de possuir memória fraca com relação a fatos políticos?

-De maneira geral, com as exceções de praxe, a mídia tem responsabilidades por essa memória fraca, à medida em que não dá seqüência e acompanhamento sistemático a alguns episódios. Um exemplo é o caso CPEM, que agora volta à tona com a convocação de Paulo de Tarso Venceslau e Roberto Teixeira à CPI dos Bingos. A reunião de todas essas reportagens em um livro, com a visão do outro lado, resgata uma idéia de conjunto que possibilitar entender melhor o enredo do filme


O caso do assassinato do prefeito Celso Daniel está longe de ser concluído e a cada dia novos elementos vêm a público. O livro mostra reportagens sobre denúncias de nepotismo e irregularidades cometidas na prefeitura antes do acontecimento, inclusive o enriquecimento duvidoso de Sérgio Sombra, principal suspeito do crime. Qual é a sua opinião sobre isso?

-Salvo engano, fui o primeiro a revelar o tráfico de influência de Sérgio Gomes da Silva na prefeitura de Santo André, durante o segundo mandato de prefeito Celso Daniel, mostrando, no Estadão, o inexplicável crescimento de seu patrimônio com depósitos provenientes de empresas que prestavam serviços à prefeitura. Essas e outras reportagem sobre o caso ainda não esclarecido também estão no livro, incluindo as matérias sobre dois diálogos intrigantes das fitas que agora estão na CPI dos Bingos. Incluí um artigo onde afirmo que as coisas poderiam ter sido diferentes se Celso Daniel tivesse encarado de frente o problema Sérgio Gomes quando a isso foi solicitado. Mas ele sempre recusou-se a dar entrevistas sobre a atuação do hoje denunciado como mandante do crime.

No mês de julho, o famoso jornal americano "Herald Tribune" declarou em uma reportagem que o escândalo "decretava a morte do lulismo" e reduzia a "aura" do presidente Lula. Na sua opinião, quais serão as próximas etapas da crise? O lulismo está com os dias contados?

-Não creio. A imagem do presidente sofreu abalos consideráveis, e talvez mais sérios do que ele próprio imagine, mas, nas condições de hoje, até pelo apoio de expressiva parcela do eleitorado, não está colocado este projeto político tenha chegado ao esgotamento. Se as lições da crise forem aproveitadas com radicalidade – e parece que não estão sendo – ainda há muito água para passar embaixo da ponte. Se “Já vi esse filme” contribuir um mínimo que seja para a necessária radicalidade dessa autocrítica, já terá cumprido seu papel.


Se o Brasil já viu esse filme, de quem foi a culpa para que essa história se repetisse?

-Não sei distribuir as culpas e nem seria o caso. Mas acho que em determinados momentos importantes, quando houve denúncias de maior gravidade, minhas e de outros jornalistas que nunca tiveram medo do PT, a simpatia petista prevalecente em algumas áreas de algumas redações, prejudicou um aprofundamento das investigações. Às vezes, o alvo passou a ser o jornalista que fez as reportagens, e não as informações que elas traziam. Quando digo alvo, é alvo mesmo, no sentido bélico, porque é assim que eles acham que se joga o jogo.

-Suas reportagens contra Lula e o PT resultaram, inclusive, no veto de seu nome por Lula para uma entrevista ao programa Roda Viva, em 1999. Ali o petista demonstrou intolerância em relação à liberdade de imprensa?

Já disse e repito que Lula, como qualquer cidadão, teve e tem todo o direito de não querer dar entrevista para quem não queira. É da democracia. Pode-se questionar, mas é saudável que seja assim. O problema maior, no caso, foi a TV Cultura ter aceitado o veto daquela forma tão acachapante, como se o Lula mandasse e desmandasse lá. O Lula deu lá os motivos dele, dos quais discordo. Eu acho que ele foi pessimamente orientado por uma assessoria incompetente e medrosa, e teve receio de responder eventuais perguntas sobre questões até hoje não esclarecidas, como a história da compra do apartamento em que mora em São Bernardo do Campo (no ABC paulista). Meses, antes, na Folha de S. Paulo, eu havia feito uma matéria mostrando que parte da explicação do hoje presidente para a compra do imóvel não era verdadeira. O mistério continua.


Entrevistas com Maklouf na íntegra AQUI E AQUI

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