Arnaldo Jabor
Quem é você? — gritou o presidente Lula.
— Eu sou o Mesmo! — respondeu a voz. No fundo do corredor do Palácio da Alvorada, uma massa nebulosa girava sobre si mesma, como um fantasma-bailarino. D. Marisa já dormia, Brasília também.
— Já é tarde da noite, não há ninguém aqui... Quem é você? — gritou o presidente para a nuvem.
— O Mesmo, o Mesmo! — respondeu o abantesma.
Lula pensou: “É um pesadelo...”
A voz adivinhou:
— Não sou um sonho. Sempre estive aqui, esperando. Eu estive aqui com Collor, estive com FH. Agora com você... Eu volto sempre. Eu sou o Mesmo...
O fantasma tinha vagos contornos humanos, rostos mutantes, olhos, bigodes em meio a névoa.
— Que você quer de mim? — balbuciou Lula, com os gelinhos do uísque tilintando em seu copo.
— Eu vim aqui lhe agradecer, pois você já chegou aonde eu quero: no mesmo, no mesmo... Quero te saudar porque já tive medo de você... como uma Regina Duarte do além... Eu achei que seu governo ia mudar o país, me senti ameaçado, acreditei que havia um resíduo ético nos petistas e que você detinha um grão de romantismo idealista. Achei que iam aprofundar as mudanças democráticas, fiquei com medo que você aperfeiçoasse o Plano Real, fizesse reformas no Estado, cortasse despesas etc... E aí, eu tremi de medo dentro de meu pântano; saí de meu torpor, farejei o ar, inquieto, mas agora estou calmo. Graças a Deus, você só teve a esperteza inercial de manter a política do FH com o Palocci, mas não mexeu em nada, não mudou nada e foi organizando esta zorra, esta bela congestão institucional que temos agora, que coroa minha volta triunfal. Eu estava dormindo há muito tempo no bolso do jaquetão do Sarney e, agora, saí aliviado.
— Mas eu sou o povo no poder, eu sou o novo! ...TEXTO NA ÍNTEGRA CLIQUE AQUI
Imagem Portugal-Linha.
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