É inútil tentar retirar de um debate televiso idéias gerais de programa de governo, até porque, do ponto de vista formal, os programas partidários do PT e do PSDB são muito assemelhados. São documentos para consumo externo e pouco ou nada pautam a ação dos governantes, uma vez eleitos. Lula, por exemplo, cumpre a cartilha do Foro de São Paulo e seus documentos oficiais não o citam. Os documentos ditos “internos” do PT, todavia, não deixam margem a dúvida sobre seus propósitos revolucionários e certa vez tive oportunidade de analisá-los em detalhe. Por outro lado, o programa do PSDB fala muito do “social”, mas no governo sua ação se aproxima muito do social-liberalismo, do respeito à economia de mercado, dos valores da sociedade aberta, do respeito à democracia e aos valores ditos republicanos. O problema é que há um consenso na classe política de que defender abertamente idéias liberais não dá voto, o que me parece um equívoco. Hoje no Brasil há um vácuo político de idéias de direita, deixando uma parcela ponderável do eleitorado órfão de liderança.
O que se deve analisar no debate é o seu efeito sobre o público em geral, o eleitorado, o seu poder de arrebanhar votos. E o debate de ontem a noite na TV Bandeirantes foi um show de Geraldo Alckmin sobre Lula. Este último mostrou-se sem máscara, ele por ele mesmo: um analfabeto funcional que não sabe português, um decorador de números que não sabe o que diz, um repetidor de slogan cujo conteúdo desconhece. Alckmin, por seu turno, e com a experiência de governador que realmente governou, não tendo ficado na dependência dos áulicos e nem na obsessão de uma eventual reeleição, mostrou que sabe como funciona o Estado e como é a rotina de um governante. Lula, ao contrário, mostrou-se um alienado, uma besta quadrada posta na Presidência da República e que nada aprendeu no exercício do poder. Mesmo o eleitor desatento não pôde deixar de notar a abissal diferença de preparo entre ambos os candidatos.
Sublinho três pontos altos de Geraldo Alckmin no debate, tendo em vista o propósito da comunicação de massa: 1- A sua chegada surpreendente, de táxi, fato que sublinha o despojamento franciscano que é a marca de seu estilo pessoal, em contraste com o aparato robusto de Lula e seus acólitos; 2- A sua peremptória afirmação de que venderá o Aerolula, o luxuoso avião que é um escárnio de Lula sobre os brasileiros pagadores de impostos, em especial sobre aqueles mais empobrecidos; e 3 - Sobre a questão da Bolívia, que deve ter chocado todos os brasileiros, pois afinal Lula foi eleito para defender nossos interesses e não os dos bolivianos. Ficou claro que ele desconhece seu papel mais elementar enquanto presidente da República. Em termos de imagem esses três momentos somaram muito em favor de Geraldo Alckmin e em prejuízo do adversário.
Lula não teve nenhum momento saliente contra Alckmin, ao contrário. Ficou na defensiva todo o tempo. Sua imagem de cara de ressaca, envelhecida como um barril de carvalho e com ar doentio dos consumidores habituais de álcool, era o oposto da jovialidade e da vitalidade de Alckmin. Em termos midiáticos não poderia ser mais favorável ao candidato das oposições. E Lula cometeu dois erros capitais: o primeiro foi citar George Bush na comparação com o caso da Bolívia, como se algo tivesse a ver com Bush. Nem Lula é do Partido Democrata e nem seu eleitorado está nas terras do Tio Sam. O que os brasileiros esperavam era uma ação afirmativa do governo Lula em defesa dos interesses nacionais e ele não o fez e não há explicação para essa omissão. O outro erro foi insistir em citar o governo FHC e números comparativos, mais das vezes estapafúrdios, como se esse argumento pudesse ter alguma ressonância junto ao eleitorado. Ninguém mais lembra do governo FHC. Penso que o fez por absoluta falta do que falar contra Geraldo Alckmin e seu excelente governo em São Paulo. Falta de discurso. O vazio de sua retórica ficou patente.
O debate da TV Bandeirantes foi um massacre de Geraldo Alckmin contra Lula, conforme eu já esperava. Lula não tem tutano para um enfretamento cara a cara com alguém tão notavelmente superior, seja em termos intelectuais, seja em termos de experiência administrativa. Se o próximo debate da TV Globo tiver o mesmo feitio e o mesmo resultado ouso afirmar que Geraldo Alckmin será o novo presidente do Brasil.
por José Nivaldo Cordeiro em 09 de outubro de 2006, no midiasemmascara.org
Enviado por Andrea Domingues
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