1) A matéria picareta, nesse caso, costuma afirmar que o presidente Lula está muito irritado com tudo isso;
2) Se ele está irritado, é porque, claro, evidentemente, ele não sabia, mais uma vez, de nada;
3) A matéria picareta costuma recorrer ao chavão: “Lula tem dito a seus interlocutores”. É conversa mole. São jornalistas palacianos reproduzindo o que lhes dizem os assessores;
4) O nome técnico para o trabalho dos assessores é “spinning job”;
5) Quem cai na conversa costuma fazer um outro “job” para o governo, que não escreverei aqui por delicadeza;
6) A matéria picareta nunca diz que Lula “se diz” surpreendido; nunca informa que isso é uma informação ou avaliação da assessoria. A matéria picareta faz de conta de que isso é uma apuração, como se o jornalista estivesse se insinuando, à revelia, nos bastidores do poder;
7) Uma matéria é picareta quando o seu oposto seria uma impossibilidade em si. Explico-me: “Se Lula comenta com interlocutores que está irritado, que não vai poupar ninguém”, isso só chega ao jornalista porque o suposto interlocutor quer. Imaginem se seria possível o seguinte: “Lula comentou com interlocutores que é uma pena que tudo tenha dado errado”.
8) A matéria picareta sempre sugere que há alguma divergência de fundo entre Lula e PT;
9) A matéria picareta traz “bastidores”, sem uma fonte citada nominalmente, mas, curiosamente, é publicada em todos os jornais;
10) A matéria picareta, por isso mesmo, é aquela em que a “fonte” acha os jornalistas — todos os jornalistas — sem que o jornalista precise achar a fonte.
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