quinta-feira, agosto 17, 2006




Carlos Drummond de Andrade
(Itabira, 31 /outubro/ 1902Rio de Janeiro, 17 /agosto/ 1987)

Hino nacional

Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás as florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil.

O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...

Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as
elites.

Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.

Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros
também.
E nossas virtudes?
A terra das sublimes
paixões...
os Amazonas inenarráveis... os incríveis
João-Pessoas...

Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil compreender o que
querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a
razão
de seus sofrimentos.

Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão
despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis
carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é
o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os
brasileiros?


Eduardo Alves da Costa

Quanto a mim, sonharei com Portugal

Às vezes, quando
estou triste e há silêncio
nos corredores e nas veias,
vem-me um desejo de voltar
a Portugal. Nunca lá estive,
é certo, como também
é certo meu coração, em dias tais,
ser um deserto.

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