quarta-feira, abril 26, 2006



UM DIA...

por Glauco Fonseca

...Vieram e quebraram o sigilo bancário de um vizinho caseiro. Como eu moro em apartamento, não sou caseiro e nem tampouco tenho um caseiro não me importei. Ninguém foi demitido do banco onde o crime foi cometido, mas não me importei. Afinal de contas, nem conta eu tenho lá.Outro dia, um presidente boliviano levou a minha estatal que estava lá no país dele. Eu não dei bola, porque afinal de contas meu carro é a álcool.No outro dia, veio um presidente venezuelano num estado vizinho ao meu tramar, nas minhas barbas, a tomada do poder com um dirigente de um movimento dos sem terra. Eu, que não sou fazendeiro e não planto nem bananeira, não dei importância e nada fiz a respeito.Aí um dia veio o presidente do meu país tentar subjugar os jornalistas que eu leio, os articulistas da revista que eu assino e os caras que escrevem nos blogs , portais e sites que eu visito, através de uma “entidade”. Eu novamente achei que o problema não era comigo, pois nem jornalista eu sou. Dia desses, tentaram levar o revólver do meu vizinho da frente. Eu, que tenho pavor mesmo é de bandido, mesmo assim, me restringi a votar “não”, correndo o risco de ficar totalmente à mercê de todos os tipos de bandidos, quadrilhas e bandos que hoje se proliferam no Brasil.Aí apareceram uns sujeitos com cara e sobrenome oriental. Um deles participou de prejuízos ao fundo de pensão de meu vizinho próximo. O outro, é presidente de uma entidade que recolhe dinheiro compulsório de um outro vizinho. Um dos “japas” foi indiciado e o outro é alvo de investigações que ainda nem começaram direito. Como eu não tenho dinheiro investido em fundo de pensão nem tampouco sou microempresário, deixei pra lá e nada fiz.Assim, mês a mês, sucessivamente, vizinhos meus foram levados no bico, um a um. Num sábado, apareceram várias pessoas com bandeiras vermelhas com estrelas amarelas, pedindo votos. Desta vez, nenhum vizinho foi levado no papo. Nenhum vizinho colocou a bandeira na janela, nenhum vizinho colou o adesivo, vestiu a camiseta e o boné. Novamente, achei que o assunto não era comigo, pois jamais votei no partido dos trabalhadores.Aí eles acharam que o eleitor era amnésico, que roubar era comum, que cassar estava fora de moda, que o que era público era mais deles do que meu. Aí eu fiquei preocupado.Eu escrevo todo dia, eu discuto todo dia, eu informo a todos, sempre que posso, sobre o que está acontecendo no Brasil. Hoje eu descobri que o problema é, sim, todo meu.Eu e meus vizinhos não levamos mais desaforo pra casa.

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