sexta-feira, junho 16, 2006



Sem indignação?

por Paulo Saab

Na década de 80, escutei do dono de uma rede de concessionárias que ele não pagava todos os impostos que devia, pois se o fizesse acabaria fechando as portas. E hoje? Os impostos só aumentaram de lá pra cá. Portanto, a grandessíssima maioria dos empresários se vira como pode para pagar menos imposto, sem, obviamente, ter a devida compensação em serviços públicos. Em suma, estamos em um momento onde inexistem instituições em que se possa confiar.
A novidade não é o PCC se tornar uma organização, é terem todas as organizações (públicas, principalmente) se tornado criminosas, de um jeito ou de outro. Seja absolvendo mensaleiros - fazendo pouco da opinião pública -, seja dando o calote no governo por falta de faturamento, seja corrompendo, ativa ou passivamente.
O que é a instituição do despachante? Nada mais, nada menos que alguém que recebe para fazer alguém fazer aquilo que é pago para fazer. Está claro o desperdício de dinheiro que isso representa? Mas pagamos e deixamos de reclamar que isso existe, porque tratamos de dar o troco em algum outro lugar. E assim vamos voltando ao tempo do bang-bang.
Este é um sentimento que se vai generalizando no Brasil. Não parece ser novidade, porque há mais de cem anos Ruy Barbosa já citava que "de tanto ver triunfar a injustiça, prosperar a nulidade, o homem chegava a duvidar de si mesmo, a ter vergonha de ser honesto". De lá para cá parece que não mudou muito. Se mudou, foi para pior, porque "nunca antes neste país" a sem-vergonhice pública, a desmoralização das instituições e a falácia foram tão ostensivas. A ponto de um candidato ao Governo de São Paulo, pelo partido que hoje assalta o poder, ter dito que os envolvidos em corrupção no governo Lula e na cúpula do PT devem ser analisados pela folha corrida e não pelo pecado que possam ter cometido.
O Brasil petista é assim. O sujeito nunca matou alguém na vida. Se cometer um "assassinatozinho" não precisa ser punido.
A falta de indignação é outra falácia. Estamos todos indignados e por mais que os interessados em fingir que a realidade é outra, serão desmascarados nas urnas em outubro.
Silenciosamente, a população vai expurgar da vida pública a horda de "políticos" que assaltou a República. Este é o desafio da dignidade brasileira. Não reeleger tantos quantos, absolvidos ou renunciantes, queiram voltar a cargos eletivos depois de terem sido flagrados com a mão na botija, furtando o patrimônio público, de um ou outro jeito.
Não é possível que a mais deslavada cara-de-pau que já se assenhorou do bem público em nome da moralidade, e o dilapida com uma desfaçatez de corar frade de pedra, possa ser legitimada pelo povo brasileiro.
Por oportuno, recomendo à todos que ouçam o Melô da Eleição (
www.lucianopires.com.br ). Vamos ser dignos de nós mesmo. Agora, se os infratores, criminosos, indignos, forem reeleitos, é porque merecemos tudo isso.

Midia sem Mascara

Nenhum comentário: