Sem indignação?
por Paulo Saab
Na década de 80, escutei do dono de uma rede de concessionárias que ele não pagava todos os impostos que devia, pois se o fizesse acabaria fechando as portas. E hoje? Os impostos só aumentaram de lá pra cá. Portanto, a grandessíssima maioria dos empresários se vira como pode para pagar menos imposto, sem, obviamente, ter a devida compensação em serviços públicos. Em suma, estamos em um momento onde inexistem instituições em que se possa confiar.
A novidade não é o PCC se tornar uma organização, é terem todas as organizações (públicas, principalmente) se tornado criminosas, de um jeito ou de outro. Seja absolvendo mensaleiros - fazendo pouco da opinião pública -, seja dando o calote no governo por falta de faturamento, seja corrompendo, ativa ou passivamente.
O que é a instituição do despachante? Nada mais, nada menos que alguém que recebe para fazer alguém fazer aquilo que é pago para fazer. Está claro o desperdício de dinheiro que isso representa? Mas pagamos e deixamos de reclamar que isso existe, porque tratamos de dar o troco em algum outro lugar. E assim vamos voltando ao tempo do bang-bang.
Este é um sentimento que se vai generalizando no Brasil. Não parece ser novidade, porque há mais de cem anos Ruy Barbosa já citava que "de tanto ver triunfar a injustiça, prosperar a nulidade, o homem chegava a duvidar de si mesmo, a ter vergonha de ser honesto". De lá para cá parece que não mudou muito. Se mudou, foi para pior, porque "nunca antes neste país" a sem-vergonhice pública, a desmoralização das instituições e a falácia foram tão ostensivas. A ponto de um candidato ao Governo de São Paulo, pelo partido que hoje assalta o poder, ter dito que os envolvidos em corrupção no governo Lula e na cúpula do PT devem ser analisados pela folha corrida e não pelo pecado que possam ter cometido.
O Brasil petista é assim. O sujeito nunca matou alguém na vida. Se cometer um "assassinatozinho" não precisa ser punido.
A falta de indignação é outra falácia. Estamos todos indignados e por mais que os interessados em fingir que a realidade é outra, serão desmascarados nas urnas em outubro.
Silenciosamente, a população vai expurgar da vida pública a horda de "políticos" que assaltou a República. Este é o desafio da dignidade brasileira. Não reeleger tantos quantos, absolvidos ou renunciantes, queiram voltar a cargos eletivos depois de terem sido flagrados com a mão na botija, furtando o patrimônio público, de um ou outro jeito.
Não é possível que a mais deslavada cara-de-pau que já se assenhorou do bem público em nome da moralidade, e o dilapida com uma desfaçatez de corar frade de pedra, possa ser legitimada pelo povo brasileiro.
Por oportuno, recomendo à todos que ouçam o Melô da Eleição ( www.lucianopires.com.br ). Vamos ser dignos de nós mesmo. Agora, se os infratores, criminosos, indignos, forem reeleitos, é porque merecemos tudo isso.
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