por F/ Lott (*)
Lutei grande parte de minha vida para chegar onde estou: Presidente da República dos Estados Unidos da Chatuba. Não me aprofundei nos estudos, mas o pouco que aprendi uso para o bem. Que adianta o cidadão saber muito e usar o Doutorado para o mal? De mais a mais o pouco estudo de minha época vale mais que o muito de agora. Meus opositores vivem dizendo que eu só tenho a quarta série do Jardim da Infância. Mentira! Tenho cinco, pois repeti a última.
No meu governo pratica-se a plena Democracia. Vale dizer que os três Poderes Constituídos estão instalados. Se funciona é outra conversa. É o que se nos exigem as grandes potências mundiais, capitaneadas é claro, pelo nosso maior país amigo: o Ultra Sentinela Aliado.
Democracia como me ensinou a Tia Zezé, no Prézinho, vem da Antiga Grécia. Meu Chefe de Gabinete que funciona como meu Primeiro Ministro, diz que isso é balela para engambelar o povo, pois quem realmente votava na Eclésia, o Congresso de lá, uma Praça Pública, era tão-somente os homens, leia-se sexo masculino, desde que possuíssem Bens, ou seja: os senhores dos escravos. Esses, embora Gregos, eram os empregados, com apenas dois direitos: primeiro não ter direito a nada, e segundo não abusar desse direito.
É o meu modelo democrático. Tudo para o povo, nada através do povo.
A Economia é a menina dos meus olhos na política. Existem para fins didáticos dois ramos. A Micro é quando o chefe de família recebe um salário mínimo e põe a metade na Caderneta de Poupança e a outra metade divide em envelopes e dá para a esposa dizendo: se vira! Aí ela diz que só vai ter comida, inclusive para a marmita dele, por dois dias. Então o marido vê que não pode governar a casa assim. A Macro é a do Governo. Eu faço a mesma coisa, abarroto o Tesouro Nacional e o Banco Central de dinheiro e o resto - o povo - que se dane.
Quanto à Segurança Nacional me espelho em duas tiradas filosóficas: a parábola do Beija-flor e o sonho de John Lenon. A floresta estava em chamas e um Beija-flor ia ao lago e trazia água no bico, a qual lançava ao fogo. Aí alguém disse: assim nunca esse incêndio vai terminar; no que retrucou o pássaro: estou fazendo a minha parte, se todos fizerem o mesmo, acaba. O Beatles John sonhou com um mundo sem guerras.
Da minha parte estou sucateando mais e mais minhas Forças Armadas. Se todos os governantes do mundo fizerem o mesmo que eu, aí é a tão sonhada Paz Mundial.
Liberdade é um ponto de honra de meu governo. O povo é livre para falar: assim sendo todos dizem que o Legislativo é corrupto com a minha conivência; que o Legislativo é fisiológico; que o Judiciário é entre outras coisas, nepotista. Tem quem diga que isso não é Liberdade e sim o direito do povo espernear dizendo que está sendo violentado em todos seus direitos sem ter a quem recorrer. Mas e a Liberdade de Imprensa? Só dá notícias favoráveis ao Estado? Não! Quando o escândalo cai no domínio público e não dá mais pra segurar, olha a Imprensa noticiando! É a máxima: subiu com ele, desceu pau nele. É claro que aí eu rescindo o contrato de propaganda com tal veículo, para provar minha imparcialidade.
Qual país do mundo, que não na minha Chatuba querida - eu disse do mundo - tem tanta gente com plena liberdade para gritar o tempo todo, aos quatro cantos sem parar, que meu Governo é corrupto? Isso é Liberdade! Isso é Democracia! Isso é Cidadania Plena!
Norteio a governança da Nação em fazer tudo pelo Social. Há séculos existe uma parcela significativa do meu povo, que poder-se-ia dizer que forma uma Casta de injustiçados sociais, etnia essa formada pelas pessoas de olhos albinos. Nasceram assim e desassistidos, são párias da sociedade e das oportunidades de exercerem seu direito de serem na prática, verdadeiramente, cidadãos e cidadãs.
Tudo porque não têm a visão que as demais pessoas têm. Enquanto não se tem recursos monetários para tratamento no oftalmologista, que daria cura total, baixei uma medida salvadora: cada qual terá as expensas do Governo, cotas de óculos escuros para tapar tal deficiência. Assim tem óculos que garante dez por cento de escamoteamento da incapacidade; tem ocultação de vinte por cento, de cinqüenta, e se preciso for chega-se até a cota dos cem por cento. Dou também uma pequena ajuda de custo aos famintos. Se chega até eles ou não, isso já é outra conversa. No cômputo geral, todos os desassistidos socialmente estão satisfeitos com meu Governo em um todo e comigo particularmente, pois minha reeleição são - graças a eles - favas contadas.
Cumprir rigorosamente a Constituição Chatubense é meu ponto de honra. Todas as vezes que preciso me relacionar com os Poderes Constituídos, cumpro o que está no Orçamento e vou até além dele. Se preciso for arranjo dinheiro para eles onde possa, de qualquer jeito ou maneira. Não será por falta de dinheiro que minhas diretrizes não serão aprovadas.
No plano dos Direitos e Garantias considero todos iguais perante a Lei, dentro do círculo dos pares naturalmente, observando que são todos iguais, mas existem uns que são mais iguais que os outros. E o tal foro privilegiado. Mas não fui eu que inventei, já existia antes, e em time que está ganhando não se mexe.
Dizem que a Lei reina, mas a Jurisprudência governa. Daí, para os inimigos a Lei e para os amigos o jeitinho.
O meu regime financeiro é o Capitalismo. Já fui Comunista, depois de eleito, não mais. Como dizia Vão Gogo na Revista O Cruzeiro, o Capitalismo é a exploração do Homem pelo Homem, já no Comunismo é exatamente o contrário.
Embora virtualmente reeleito, não adoto o clima do já ganhou. Minha campanha será conduzida no sentido de dizer para o povo tudo que realizei, calando, é claro, sobre as coisas que prometi ou tinha obrigação de fazer e não fiz. A massa de manobra é semi – analfabeta como eu, e a vitória então é certa.
Mais quatro anos e me aposento. Pensão vitalícia. Se assim não fosse não faria diferença alguma. Graças a Deus Papai do Céu me ajudou e com o que tenho agora dá para viver modestamente o resto da minha vida sem trabalhar, como vizinho do Bill Gates.
Lutei grande parte de minha vida para chegar onde estou: Presidente da República dos Estados Unidos da Chatuba. Não me aprofundei nos estudos, mas o pouco que aprendi uso para o bem. Que adianta o cidadão saber muito e usar o Doutorado para o mal? De mais a mais o pouco estudo de minha época vale mais que o muito de agora. Meus opositores vivem dizendo que eu só tenho a quarta série do Jardim da Infância. Mentira! Tenho cinco, pois repeti a última.
No meu governo pratica-se a plena Democracia. Vale dizer que os três Poderes Constituídos estão instalados. Se funciona é outra conversa. É o que se nos exigem as grandes potências mundiais, capitaneadas é claro, pelo nosso maior país amigo: o Ultra Sentinela Aliado.
Democracia como me ensinou a Tia Zezé, no Prézinho, vem da Antiga Grécia. Meu Chefe de Gabinete que funciona como meu Primeiro Ministro, diz que isso é balela para engambelar o povo, pois quem realmente votava na Eclésia, o Congresso de lá, uma Praça Pública, era tão-somente os homens, leia-se sexo masculino, desde que possuíssem Bens, ou seja: os senhores dos escravos. Esses, embora Gregos, eram os empregados, com apenas dois direitos: primeiro não ter direito a nada, e segundo não abusar desse direito.
É o meu modelo democrático. Tudo para o povo, nada através do povo.
A Economia é a menina dos meus olhos na política. Existem para fins didáticos dois ramos. A Micro é quando o chefe de família recebe um salário mínimo e põe a metade na Caderneta de Poupança e a outra metade divide em envelopes e dá para a esposa dizendo: se vira! Aí ela diz que só vai ter comida, inclusive para a marmita dele, por dois dias. Então o marido vê que não pode governar a casa assim. A Macro é a do Governo. Eu faço a mesma coisa, abarroto o Tesouro Nacional e o Banco Central de dinheiro e o resto - o povo - que se dane.
Quanto à Segurança Nacional me espelho em duas tiradas filosóficas: a parábola do Beija-flor e o sonho de John Lenon. A floresta estava em chamas e um Beija-flor ia ao lago e trazia água no bico, a qual lançava ao fogo. Aí alguém disse: assim nunca esse incêndio vai terminar; no que retrucou o pássaro: estou fazendo a minha parte, se todos fizerem o mesmo, acaba. O Beatles John sonhou com um mundo sem guerras.
Da minha parte estou sucateando mais e mais minhas Forças Armadas. Se todos os governantes do mundo fizerem o mesmo que eu, aí é a tão sonhada Paz Mundial.
Liberdade é um ponto de honra de meu governo. O povo é livre para falar: assim sendo todos dizem que o Legislativo é corrupto com a minha conivência; que o Legislativo é fisiológico; que o Judiciário é entre outras coisas, nepotista. Tem quem diga que isso não é Liberdade e sim o direito do povo espernear dizendo que está sendo violentado em todos seus direitos sem ter a quem recorrer. Mas e a Liberdade de Imprensa? Só dá notícias favoráveis ao Estado? Não! Quando o escândalo cai no domínio público e não dá mais pra segurar, olha a Imprensa noticiando! É a máxima: subiu com ele, desceu pau nele. É claro que aí eu rescindo o contrato de propaganda com tal veículo, para provar minha imparcialidade.
Qual país do mundo, que não na minha Chatuba querida - eu disse do mundo - tem tanta gente com plena liberdade para gritar o tempo todo, aos quatro cantos sem parar, que meu Governo é corrupto? Isso é Liberdade! Isso é Democracia! Isso é Cidadania Plena!
Norteio a governança da Nação em fazer tudo pelo Social. Há séculos existe uma parcela significativa do meu povo, que poder-se-ia dizer que forma uma Casta de injustiçados sociais, etnia essa formada pelas pessoas de olhos albinos. Nasceram assim e desassistidos, são párias da sociedade e das oportunidades de exercerem seu direito de serem na prática, verdadeiramente, cidadãos e cidadãs.
Tudo porque não têm a visão que as demais pessoas têm. Enquanto não se tem recursos monetários para tratamento no oftalmologista, que daria cura total, baixei uma medida salvadora: cada qual terá as expensas do Governo, cotas de óculos escuros para tapar tal deficiência. Assim tem óculos que garante dez por cento de escamoteamento da incapacidade; tem ocultação de vinte por cento, de cinqüenta, e se preciso for chega-se até a cota dos cem por cento. Dou também uma pequena ajuda de custo aos famintos. Se chega até eles ou não, isso já é outra conversa. No cômputo geral, todos os desassistidos socialmente estão satisfeitos com meu Governo em um todo e comigo particularmente, pois minha reeleição são - graças a eles - favas contadas.
Cumprir rigorosamente a Constituição Chatubense é meu ponto de honra. Todas as vezes que preciso me relacionar com os Poderes Constituídos, cumpro o que está no Orçamento e vou até além dele. Se preciso for arranjo dinheiro para eles onde possa, de qualquer jeito ou maneira. Não será por falta de dinheiro que minhas diretrizes não serão aprovadas.
No plano dos Direitos e Garantias considero todos iguais perante a Lei, dentro do círculo dos pares naturalmente, observando que são todos iguais, mas existem uns que são mais iguais que os outros. E o tal foro privilegiado. Mas não fui eu que inventei, já existia antes, e em time que está ganhando não se mexe.
Dizem que a Lei reina, mas a Jurisprudência governa. Daí, para os inimigos a Lei e para os amigos o jeitinho.
O meu regime financeiro é o Capitalismo. Já fui Comunista, depois de eleito, não mais. Como dizia Vão Gogo na Revista O Cruzeiro, o Capitalismo é a exploração do Homem pelo Homem, já no Comunismo é exatamente o contrário.
Embora virtualmente reeleito, não adoto o clima do já ganhou. Minha campanha será conduzida no sentido de dizer para o povo tudo que realizei, calando, é claro, sobre as coisas que prometi ou tinha obrigação de fazer e não fiz. A massa de manobra é semi – analfabeta como eu, e a vitória então é certa.
Mais quatro anos e me aposento. Pensão vitalícia. Se assim não fosse não faria diferença alguma. Graças a Deus Papai do Céu me ajudou e com o que tenho agora dá para viver modestamente o resto da minha vida sem trabalhar, como vizinho do Bill Gates.
(*) F/ Lott é Escritor e Advogado.
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